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Sobre a violência do nosso tempo

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Não falta “pulso firme, punição e bons costumes” como se tem repetido para justificar isso tudo. O que falta é amor.

No dia em que o prefeito de Niterói Rodrigo Neves foi preso havia, em frente à sua casa e diante de sua família, uma pequena multidão ofendendo, desejando sua morte aos gritos, chutando a porta do carro e tentando agredir. Nas redes sociais essa conduta selvagem era aplaudida como sendo “justiça”. Ficou lá por três meses, sem ser réu nem ser ouvido. Pedido de Impeachment em 48 horas. Nada significativo foi juntado à denúncia após todo este tempo. Os desembargadores soltam e (muito importante esta parte, reveladora) o retornam para o comando do poder executivo.

Dizendo que falta mais “ordem, respeito e família” aumenta o apoio à execuções, grupos de extermínio e milícias. Abertamente admite-se relativizar presunção de inocência, devido rito legal e diversas conquistas basilares da civilização humana. Torna-se lugar comum que discussões políticas se transformem em insultos, banaliza-se a agressão como fato corriqueiro nas redes sociais. É tão comum quanto é natural.

Demandas de setores com vulnerabilidades objetivas e mensuráveis na nossa sociedade, como mulheres, LGBTIs, negras, negros e índios são ideologicamente desqualificadas sistematicamente. Suas denúncias e necessidades específicas traduzidas como busca de privilégio. O aumento quantitativo das violências ignorados.

A política se torna um hostil campo da “mitagem”, que significa a humilhação e destruição do outro. O sucesso político passa a ser a violência orientada contra o pensamento divergente. A substância das idéias é substituída pela brutalidade no trato com o oponente. A honra e a humildade são esquecidas: “Fulano destrói beltrano em debate”, “Fulano humilha beltrano”. No coliseu do entretenimento superficial que se tornou a política os aplausos são likes e compartilhamentos.

A verdade deixa de fazer diferença: seja com a mamadeira de piroca, com o kit gay ameaçando fazer crianças virarem homossexuais ou com a denúncia de uma conspiração comunista iminente que ameaça toda a sociedade ocidental. O delírio é arma prática para obtenção das vitórias, a qualquer preço.

Relativiza-se a posse de centenas de fuzis enquanto se defendem morte instantânea para bandido pé de chinelo, preto e pobre. Adolescentes assassinam seus próprios colegas com armas de fogo e machadinhas.

Não falta “pulso firme, punição e bons costumes” como se tem repetido para justificar isso tudo. O que falta é amor.

E por isso é tão importante seguir lutando.

Leonardo Giordano é vereador PCdoB-RJ

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