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Intolerância religiosa: 800 atendimentos em 2017

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Coordenadoria de Direitos Difusos e Enfrentamento à Intolerância Religiosa apresenta números da violência contra os povos de matrizes africanas e aponta diretrizes para melhorar essa realidade

O vereador Leonardo Giordano participou, na noite de ontem (22), do 1º Colóquio Municipal sobre os meios de combate aos crimes de ódio e intolerância religiosa contra os Povos Tradicionais de Matrizes Africanas, realizado pela Coordenadoria de Direitos Difusos e Enfrentamento à Intolerância Religiosa (Codir) na Câmara Municipal de Niterói. Autor e presidente da Frente Parlamentar que atua no combate à intolerância religiosa no município, Giordano reforçou o compromisso do seu mandato em seguir lutando contra o racismo religioso. Ele é autor também das leis que declararam a Umbanda e o Candomblé Patrimônio Cultural Imaterial de Niterói. “O Brasil vive um momento de ataques gravíssimos aos direitos sociais e às liberdades do nosso povo. Isso está acontecendo claramente e de várias formas. Por um lado na economia, com a reforma da previdência, que afeta o povo. E por outro lado pela pregação de grupos extremistas que têm se levantado para defender ódio e negar a história do Brasil. O racismo tem marcas atuais e continua acontecendo. É muito importante que a gente se levante contra essas vozes reacionárias que pretendem diminuir a diversidade e impedir a construção de um país que seja de todas e todos”.

Um levantamento do Ministério dos Direitos Humanos mostra que o Estado do Rio de Janeiro registrou 800 atendimentos de intolerância religiosa só no ano passado. A média é de dois casos por dia e, na maioria das vezes, as vítimas são praticantes de religiões de matriz africana. Para a antropóloga e coordenadora de pesquisas do Instituto Hoju, Marina Miranda, o uso do termo “intolerância religiosa” não faz jus ao que acontece na prática. Segundo ela, há uma diferença entre o uso político do termo e a real consciência do que ocorre com os povos de matrizes africanas. “O ataque ao terreiro não é um evento localizado, é um ataque a uma estrutura cultural inteira, porque quando uma mãe de santo morre, há uma grave morte cultural. Essa morte também é um problema de saúde pública. O povo de terreiro está doente, está com medo de ir pros seus barracões, principalmente se estiverem indumentarizados. Quando se ataca um terreiro, é uma visão de mundo que se ataca”.

Os tipos de intolerância mais praticados são discriminação, depredação, difamação e invasão. Praticantes do Candomblé, Umbanda e outras religiões de matriz africana correspondem a 71,5% dos atendimentos. Já os católicos correspondem a 9%, evangélicos 6%, e islâmicos, 3%. A partir de agora, no Rio, registros de ocorrência em delegacias vão passar a classificar a intolerância religiosa nestes episódios. A lei, sancionada na semana passada pelo governador Luiz Fernando Pezão, prevê que sejam enquadrados como crime contra o sentimento religioso.

Subsecretário da CODIR, Gilmar Hughes aproveitou para anunciar que foi encaminhado, à Secretaria de Ordem Pública (SEOP), representada no evento pelo coordenador Carlos, um pedido de capacitação dos guardas municipais, dos servidores da saúde e da educação junto ao Centro de Promoção da Liberdade Religiosa & Direitos Humanos (CEPLIR), representado no Colóquio pela coordenadora Lohana Machado. Gilmar lembrou o caso de uma moradora de São Gonçalo praticante do Candomblé que foi vítima de intolerância religiosa por um motorista da Viação Tanguá. Fabiana Figueiredo de Souza, de 23 anos, foi constrangida pelo profissional que, logo depois de dizer que a linha não ia até o destino desejado pela jovem, teria afirmado que “não carregaria uma macumbeira”.

Também foi anunciado, durante o evento, o pontapé inicial para a construção do mapeamento e da cartografia dos terreiros de Niterói.

Em 21 de janeiro foi comemorado o Dia Nacional de Combate à Intolerância Religiosa.

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